“Quer ser feliz? Trabalhe por um propósito maior que o resultado financeiro. Este é consequência e não o objetivo.”
Victor Prates
“A única maneira de estar verdadeiramente satisfeito é fazer algo que acredita ser um grande trabalho. E a única maneira de fazer um grande trabalho é amando o que faz. Se ainda não o encontrou, continue olhando. Não desista nem se conforme. Como todos os assuntos do coração, você saberá quando o encontrar.”
Steve Jobs
Durante minha infância e adolescência, pratiquei judô como esporte. Com o intuito de ganhar meus primeiros “trocados”, aceitei dar aulas para crianças de uma escola infantil. Recordo-me que sempre os perguntava “o que queriam ser quando crescessem” e me encantava com as respostas que recebia. Um queria ser astronauta, outro bombeiro, alguns jogadores de futebol. Via, nos olhos daquelas crianças, o sentimento de que tudo era possível e que, certamente, atingiriam seus objetivos.
Conforme vamos nos tornando adultos, aprendemos que precisamos deixar de ser idealistas e românticos e que é hora de entrar no mundo real. Que nem sempre conseguimos fazer o que gostamos e que o importante é encontrar um trabalho bem remunerado e ser bom no que faz. Precisamos nos conformar.
Muito se pergunta, hoje, se, para nos tornarmos um bom profissional, é imprescindível que estejamos ligados a um trabalho de que gostamos de fazer e que nos dá grande satisfação. Por intermédio de observação e estudo, não tenho dúvida de que há inúmeros bons profissionais que não fazem, necessariamente, aquilo que amam fazer. São profissionais automotivados, responsáveis e comprometidos, que trabalham com seriedade e dedicação mesmo que ligados a uma atividade que não apreciam. Sua ética e compromisso são fortes o suficiente para fazê-los trabalhar duro, onde quer que estejam.
Ainda que assim seja, tenho comigo que os trabalhos extraordinários, as verdadeiras contribuições, foram levadas a cabo por homens e mulheres que eram e são apaixonados pelo que fazem. Que possuem aquele brilho nos olhos e não veem seus trabalhos como fardo. São pessoas que acordam todos os dias motivados, menos por recompensas externas e mais pela satisfação e privilégio de fazerem algo associado às suas verdadeiras paixões.
Além do mais, convenhamos, nossa vida profissional representa uma parte significativa de nossa existência para, simplesmente, fazermos algo de que não gostamos e ao qual não atribuímos qualquer sentido. Sempre me perguntei o porquê de tantos profissionais se conformarem com carreiras desalinhadas com suas maiores aspirações e creio que a resposta está no fato de terem escolhido fatores externos de motivação como causa primária de eleição de suas carreiras. Estão procurando sua felicidade profissional e pessoal no lugar errado!
Desde pequenos, são incutidas ideias de que o importante é encontrarmos uma carreira estável e bem remunerada, que nos dê status. Que não é realista fazermos o que amamos em nossa profissão. Acabamos sendo escolhidos pelas empresas para quem trabalhamos e optamos por aquela que nos oferece a maior compensação financeira, no menor espaço de tempo.
Grande equívoco!
É falsa a ideia de que fatores externos como salários e compensações são suficientes para trazer realização profissional. Embora importantes, representam somente uma parte da equação, e basear sua escolha profissional somente em tais fatores é receita certa para infelicidade e frustração. Quantos já não ouviram executivos, no final da carreira, dizerem que, em sua aposentadoria, começarão a viver de fato?
Durante mais de dez anos, fui professor em cursos preparatórios para Magistratura e Ministério Público. Foi quando cansei de ver bacharéis em Direito sem qualquer vocação. Faziam concurso buscando somente estabilidade e boa remuneração. Preocupado com tal contexto, antes do início das aulas, comecei a falar sobre a rotina desses profissionais, de modo a passar uma ideia do que lhes esperava e permitir-lhes uma reflexão sobre a futura carreira. Uma noite falava de vocação quando ouvi de um aluno que tinha “vocação para salário”.
Você percebe? Qual é o profissional que esse tipo de pensamento pode produzir? Que tipo de serviço prestará à sociedade? Qual será sua contribuição? Repito, remuneração, ambiente e estabilidade são fatores importantes. Quando nosso trabalho não nos oferece condições de viver com dignidade e dar suporte à nossa família, sentimo-nos mal, não importa o que façamos.
Abraham Maslow baseou parte de seu trabalho na chamada pirâmide das necessidades. Segundo tal pirâmide, todo ser humano possui necessidades básicas que devem ser supridas antes de passarem às aspirações mais refinadas.
Como digo aos meus alunos, não tente falar a alguém de barriga vazia sobre filosofia e espiritualidade. É inegável que fatores como alimento, moradia, saúde e segurança são importantes, mas somente até certo ponto, após o qual, outras necessidades humanas surgem com igual premência de serem satisfeitas. Quando nosso critério de escolha de carreira e permanência no trabalho baseia-se tão somente nesses fatores externos, posso afirmar, com muita tranquilidade, que, em algum momento, olharemos para nossa vida e experimentaremos um grande vazio.
Ao me referir a um trabalho que oferece satisfação, cuja motivação é essencialmente interna, refiro-me a um trabalho desafiador, que nos permite ser reconhecidos e facilite o aprendizado. Um trabalho que nos traga responsabilidades e nos permita crescer. Um trabalho que possa contribuir para algo maior que nós mesmos.
Quando se trabalha somente por dinheiro, o importante é o destino: quanto acumularemos ao final, o que compraremos, que estilo de vida passaremos a ter. Já os profissionais entusiasmados com suas carreiras, além do destino, usufruem de forma especial do caminho! Acordam todos os dias motivados a serem melhores, a criarem uma visão, influenciando as pessoas. São aqueles que se sentem privilegiados por fazerem o que fazem e dão sentido à frase que afirma que quando descobrimos o trabalho que amamos nunca mais trabalharemos um dia em nossas vidas. A diferença entre profissionais que trabalham motivados por fatores externos e internos se acentua nos momentos de crise. E eles virão! Nesses momentos, as pessoas motivadas somente por recompensas externas, rapidamente, desanimam e perdem o foco. Normalmente, são os primeiros a jogar a toalha.
Estudantes que abandonam a curiosidade e o desejo de aprender para somente tirarem o mínimo da nota e passarem de ano e profissionais que trocam sua força de trabalho somente por um contracheque no início do mês fazem parte do que Clóvis de Barros Filho chama de “escola da tristeza” ou “trabalho da tristeza”. Não faça parte dessa turma.
Para que não reste nenhuma dúvida acerca do que me refiro neste momento, gostaria de fazer uma última distinção: a diferença existente entre “fazer o que se ama” e “amar o que se faz”. Distinção importante de ser feita, pois, caso contrário, você poderia imaginar que estou sugerindo que todos transformem seus hobbies em carreiras – embora seja perfeitamente possível de acontecer.
Explico. Um de meus hobbies preferidos é tocar violão. Desde adolescente, sempre que posso, tento “tirar” novas canções e, para desespero de meus vizinhos, costumo cantar com enorme entusiasmo as músicas que consigo tocar. Bom, então poderia fazer da música minha carreira, correto? Afinal, seria um perfeito exemplo de “fazer o que se ama”.
Infelizmente, não! Ocorre que sou péssimo como músico. Não tenho nenhum talento e, apesar de tocar violão há anos, ainda estou no nível básico de proficiência. Se elegesse a música como profissão, certamente, estaria em apuros. De fato, nem sempre poderemos fazer daquilo que mais amamos a nossa carreira. Fatores como talento, recursos e existência de um mercado para o que pretendemos fazer são partes importantes nessa equação.
Por outro lado, posso afirmar com convicção que “amo o que faço”. Minha carreira me coloca em contato com pessoas extraordinárias, oferece-me desafios diários e impele-me a tornar-me um ser humano melhor. Oferece-me aprendizado constante, reconhecimento pelo meu trabalho e, além disso, condições materiais para viver e dar suporte à minha família. É isso! Nem sempre será possível fazer, profissionalmente, aquilo que mais amamos, mas é importante encontrar um trabalho que amamos fazer.
Na busca de um sentido e propósito em nosso trabalho. “Esforço e coragem não são suficientes se não tivermos um senso de propósito e direção.”
John F. Kennedy