Gostaria de iniciar este artigo contando-lhe uma fábula que muitos já conhecem. A fábula do sapo e do escorpião. Por meio dessa fábula e da interpretação que faço da história, presentear-lhe-ei um dos mais poderosos conceitos.
Vamos lá:
“Certa vez, após uma enchente, um escorpião, querendo passar para o outro lado do rio, aproximou-se de um sapo que estava à beira do rio e fez-lhe um pedido:
– Sapinho, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?
O sapo respondeu:
– Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralisado e vou morrer.
Mas o escorpião retrucou, dizendo:
– Isso é ridículo! Eu não pagaria o bem com o mal. Ademais, se lhe picar eu tambémmorrerei.
E o sapo sempre se negando a levá-lo. Porém tanto insistiu o escorpião que o sapo, de boa-fé, confiando na lógica do aracnídeo peçonhento, concordou.
Levou o escorpião nas costas enquanto nadava para atravessar o rio. No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo. Atingido pelo veneno, moribundo, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou:
– Por quê? Por que essa maldade? Por que você fez isso, escorpião? Não percebe que também morrerá?
E o escorpião respondeu:
– Não sei… Sabe, não sei mesmo!
Talvez porque eu seja um escorpião e essa é a minha natureza…”
Qual lição podemos tomar a partir dessa história?
Qual a interpretação que podemos dar?
A meu ver, a grande lição dessa fábula, aparentemente infantil, é a de que a crença que você tem a seu respeito molda o seu destino!
Sua autoimagem é, tão somente, o modo como se descreve para você mesmo. É a combinação de suas crenças a respeito de quem você é, do que é capaz e o que o distingue de todas as outras pessoas no mundo. Não há força tão poderosa na personalidade humana.
Isso se dá, pois uma das maiores necessidades de nossa personalidade é fazer com que nosso comportamento seja consistente com nossa identidade, ainda que a identidade com a qual nos identificamos seja negativa.
Entendeu o conceito? Explico melhor.
Se você por exemplo é uma pessoa que acredita ser, digamos, “azarada”, “sem sorte”, é bem provável que, na primeira dificuldade que enfrente ou diante dos inevitáveis revezes da vida, em vez de se questionar acerca do que pode ser feito de forma diferente, buscar novas soluções ou lutar por seu espaço, simplesmente conforma-se com a situação usando frases como “é assim mesmo, nada acontece de bom em minha vida, sou uma pessoa sem sorte”. Você encontrará inúmeras formas de provar para si mesmo que sua autoimagem é verdadeira e o modo de fazê-lo será por intermédio de encarar os desafios da vida e resultados que alcança.
Nos últimos anos, convivi com pessoas que não foram capazes de realizar as modificações que desejaram em suas vidas, ou, se o fizeram, foi por pouco tempo. Isso porque tentaram mudar seus comportamentos, mas não sua identidade, ou seja, quem, de fato, elas são!
Tentavam agir de fora para dentro. Mudar seus atos, suas rotinas, seus hábitos e seus resultados sem, todavia, mudarem suas crenças e a própria autoimagem.
Vou dar um exemplo. Tenho um amigo de infância bastante gordinho e que era muito querido por todos. Engraçado, fazia muitas piadas com seu peso e sempre foi aceito em todas as “rodas” como sendo o amigão da turma. Ele associava prazer ao fato de ser gordo, pois, em seu entender, era seu peso que o permitia ser aceito, querido e valorizado por seus amigos.
A sua identidade estava profundamente atrelada ao fato de ser obeso.
Quando o reencontrei, há alguns anos, já adulto e pai de família, ele estava profundamente infeliz. Disse-me que suas taxas de colesterol eram altíssimas, estava hipertenso e com grande risco de desenvolver diabetes. Confessou que já havia feito de tudo para tentar emagrecer, tentado todas as dietas e visitado todos os médicos. Tudo em vão!
No decorrer de nossa conversa, entretanto, percebi que continuava a fazer as mesmas piadinhas sobre seu peso, ainda utilizava sua obesidade como forma de integração social, estava bastante vinculado àquela imagem que, claramente, trazia-lhe conforto e prazer.
Após breve conversa, pediu minha ajuda. O que combinamos foi que, antes de entrar em outra dieta ou tentar qualquer meio de emagrecimento, faríamos uma releitura de sua identidade.
Meu amigo começou a vincular dor ao que antes via como prazer (ser o gordinho gente boa) e, por outro lado, vincular profunda satisfação e prazer a uma alimentação mais saudável e prática constante de exercícios físicos, atitudes harmonizadas com a imagem que ele havia começado a construir para si mesmo.
Expliquei-lhe que deveria tomar muito cuidado com a maneira como ele se define ou como os outros o definem. Tomar cuidado com suas palavras, pois, não raramente, tornam-se profecias.
Finalmente, dividi com ele minha crença de que a vida tem muito menos a ver com encontrar a si mesmo do que CRIAR a si mesmo. Que era possível criar a pessoa que aspirava se tornar por meio da estipulação de crenças poderosas, fixação de princípios que norteariam sua conduta e, a partir disso, criar metas condizentes com sua nova identidade.
Como consequência, resultados muito legais surgiriam em sua vida. Para a surpresa dele (não minha), mandou embora todos os quilos indesejáveis. Mais que isso, iniciou uma jornada riquíssima na realização de seus sonhos e na vivência de seus ideais antigos há muito esquecidos.
Qual a crença você tem de si mesmo? Quando olha no espelho, o que enxerga? Se de alguma forma a autoimagem que criou, ao longo dos anos, não é condizente com a qualidade de vida que deseja, para você e sua família, talvez seja a hora de começar a construir uma nova, mais poderosa e que o auxiliará a viver com mais satisfação e plenitude.