Ainda que olvidemos todos os esforços para nos tornarmos líderes mais equilibrados emocionalmente, estou certo de que, em vários momentos de nossas vidas, sentiremo-nos desapontados, tristes, ansiosos ou com raiva. Bom, o que dizer senão que somos humanos e que experimentar tais sentimentos é absolutamente natural?
Somente há dois grupos de pessoas que não experimentam emoções dolorosas. Os primeiros são os psicopatas, que por definição não conhecem esse tipo de emoção. O segundo grupo é o das pessoas que já morreram!
Portanto, quero ser o transmissor de uma excelente notícia: se você, de alguma forma, sente algumas dessas dolorosas emoções, isso significa que você não é um psicopata e que está vivo!
A questão é que, em nossa cultura ocidental e, especialmente, no mundo corporativo, não se admite que alguém, em posição de liderança, sinta qualquer coisa que não seja positivo e “condizente” com a posição que ocupa.
Executivos são extremamente preocupados com a imagem que transmitem e, por isso, além de não aceitarem suas próprias emoções, também não permitem, nem mesmo às pessoas mais próximas, que conheçam aquilo que sentem.
Como me disse um alto executivo na área de siderurgia, se o mercado descobre que o CEO de uma grande empresa está visitando um terapeuta, no dia seguinte, as ações da Companhia sofreriam enorme queda.
O problema é que pagamos um preço muito alto quando não nos damos permissão para sermos humanos, quando não criamos um espaço onde podemos ser nós mesmos, seja com nossos amigos mais íntimos, ou com nossa família. Pagamos um preço muito alto quando não criamos um espaço de total aceitação de quem somos.
Tal Ben Sharar, professor da Universidade de Harvard, relata o episódio do nascimento de seu filho, David. Ele diz que, quando estava saindo da maternidade com sua esposa e filho, o médico pediatra, dr. Shapiro, disse-lhe:
– Tal, no curso dos próximos meses, você sentirá uma infinidade de sentimentos. E todos eles serão extremos. Quero lhe dizer que está ok, que é assim mesmo.
Ao final do primeiro mês após o nascimento de seu filho, Ben Sharar recorda que começou a sentir um pouco de ciúmes de David com sua esposa, que dedicava toda sua atenção ao recém-nascido. Afinal, até aquele momento, no curso de sua relação, nunca ele tivera que dividir o amor de sua esposa com ninguém.
Imediatamente, sentiu-se mal, culpado, egoísta. Afinal, como poderia sentir ciúmes de seu próprio filho. As palavras de seu médico ressoaram em sua cabeça: está ok! É assim mesmo!
Quando se deu permissão para ser humano e aceitar que aquele sentimento era parte de si mesmo, imediatamente, o ciúme, a culpa e o mal-estar se foram.
Cinco minutos depois, ao olhar aquela criança sorrindo quando o viu chegar, sentiu um amor que pensou que lhe arrebataria o peito.
O que percebo, em meu trabalho, é que muitas pessoas despendem enorme energia tentando lutar contra aquilo que sentem e, em última análise, isso faz com que tais sentimentos e a culpa por tê-los aumentem ao longo do tempo.
Não desperdice suas energias lutando contras as emoções indesejadas; ela são uma parte de você!
Neste momento, pode-se perguntar o porquê de aceitar aquela emoção da qual não gosta e que mina suas energias?
Primeiro porque, ao aceitar o sentimento indesejado, você aceita a si próprio – e quandovocê se aceita e confia em si mesmo, sua vida e seus resultados mudam para melhor. E segundo porque a emoção indesejada pode mudar e mudará mais rapidamente quando se aceita de modo integral.
Basicamente, essa habilidade envolve certa generosidade com nós mesmos, aceitação de nossas virtudes e falhas e uma completa permissão para sermos humanos.
Devo fazer agora uma observação importante! Quando falo em permitir-se, ser humano e aceitar suas próprias emoções, sejam elas quais forem, não falo em ser dominado por elas e agir de modo inconsequente sempre que não estiver equilibrado. Não significa falar o que quer para as pessoas sob o pretexto de que está sendo autêntico, tampouco agir por impulso quando contrariado.
A propósito, essa é a marca daqueles que chamo de crianças emocionais. Esses líderes têm imensa dificuldade em lidar com contrariedades e frustações. A falta de tolerância a contrariedades faz com que, ao menor sinal de sua presença, “estourem” em episódios de cólera e raiva.
Dizem que possuem “gênio forte”, “estopim curto”. Crianças emocionais gritam por tudo e são, extremamente, acusativos, sempre com o dedo em riste, procurando por culpados quando algo não vai bem. São incapazes de reconhecer sua parcela de responsabilidade naqueles eventos cujo resultado não foi o esperado e, se necessário, mentirão para se safar das consequências de tais atos. Falta-lhes autocrítica, são egoístas.
Parte importantíssima da inteligência emocional é ser capaz de controlar ou redirecionar impulsos e estados de espírito destrutivos. É ter habilidade de suspender o julgamento e pensar antes de agir. Tais habilidades são, especialmente, importantes quando se exerce um papel de liderança em uma organização, pois o impacto gerado pelas palavras e ações de um líder são, irrefutavelmente, maiores do que aquelas proferidas por quem não a exerce. Por algumas palavras impensadas de um chefe, há alguém fazendo terapia.