Tony Loureiro

CRENÇAS E MODELO DE MUNDO

CRENÇAS E MODELO DE MUNDO

Nossa autoimagem ou identidade nada mais é que uma crença que temos a respeito de nós mesmos. Temos crenças para tudo, ainda que não percebamos. Crenças acerca de dinheiro, profissão, carreira, enfim, de como as coisas devem funcionar. 

Interessante perceber como as pessoas têm crenças distintas acerca de uma mesma situação: umas bastantes poderosas e abrangentes e outras bastantes fracas e limitantes.

Nossas crenças foram formadas ao longo de nossas vidas e, basicamente, há três maneiras de desenvolvê- las. A primeira delas origina-se da influência das pessoas que exerceram grande impacto em nossas vidas, especialmente, nossos pais, família e amigos muito próximos.

Quem nunca ouviu o adágio “Diga-me com quem andas e te direi quem és”? Deixe-me exemplificar o poder da influência das pessoas em nossas vidas de modo a criar uma crença limitante usando um assunto que interessa a todos nós: o dinheiro.

Desde muito novo, vi minha família lutar e brigar por causa de dinheiro (ou melhor, pela falta dele). Ainda me lembro das muitas discussões que meus pais tinham e que decorriam da dificuldade de manejar o orçamento familiar, pagar as contas em dia e não viver sob o constante assédio dos credores.

Fui criado ouvindo frases como “dinheiro não cai de árvores”, “não é fácil ganhar dinheiro” etc. Hoje, mais maduro, é interessante perceber como a influência de meus pais nessa questão gerou grande impacto na forma como considerei os aspectos relacionados à abundância e ao que seria ou não possível conseguir em minha vida em termos financeiros. Também é notável perceber que, como meus pais acreditavam que jamais conseguiriam ter uma vida financeira “folgada” – afinal, isso ia de encontro às suas crenças –, eles sempre encontraram uma forma inconsciente de evitar que essa situação mudasse.

Ao longo dos anos, perderam ótimas oportunidades, fizeram aplicações equivocadas e tomaram as piores decisões relativas ao tema. Somente consegui mudar essa crença limitante e ressignificá-la quando adulto. Devemos perceber que a influência das pessoas em nossas vidas também pode gerar a criação de crenças poderosas que servirão de base ao nosso desenvolvimento e realizações.

Também foram meus pais que me incutiram uma crença poderosa acerca do valor do trabalho. As imagens de meu pai, saindo muito cedo de casa para trabalhar e como acreditava que parte da identidade do homem é moldada por seu trabalho, geraram profundo impacto em minha forma de enxergar o mundo.

A segunda maneira de desenvolvimento de crenças toma por base nossas próprias experiências.

Explico:

Em regra, a formação de nossas crenças envolve um processo de GENERALIZAÇÃO. Vale dizer, passamos por experiências em nossa vida e após algum tempo tomamos o resultado que até então obtivemos como regra sem mais o questionarmos. Esse processo de generalização é muito útil e nos permite funcionar em nosso ambiente com um mínimo A Bússola Interna da Liderança de eficiência. Por exemplo, quando criança aprendemos que, para abrir a porta, devemos girar a maçaneta. Fizemos isso milhares de vezes e, hoje, já não pensamos mais, diante de uma porta, o que devemos fazer para abri-la. Inconscientemente giramos a maçaneta e a abrimos.

Se por um lado a generalização é muito útil para as tarefas cotidianas e de pouca complexidade, é extremamente danosa quando a usamos para a formação de crenças acerca daquilo que somos ou não capazes. Conheço muitas pessoas que tentaram todas as dietas possíveis e imagináveis com o objetivo de perder peso. Da lua, da proteína, da sopa e por aí vai. Todas sem sucesso. Depois de um tempo, simplesmente desistiram. Deixaram de acreditar que seriam capazes de mudar sua alimentação, seu corpo e seu estilo de vida. Vale dizer, formaram uma crença extremamente limitante acerca de sua capacidade de promover mudanças em suas vidas.

Percebem como houve uma generalização centrada em tentativas anteriores e sem sucesso? A pessoa tenta atingir um resultado repetidas vezes, não tem êxito e, a partir daí, toma como verdade absoluta sua incapacidade de conseguir resultados. Deixa de questionar a crença recém-formada e assume ser incapaz de alcançar o que deseja. Bom, estou aqui para dizer que essa forma de pensar e de criar crenças limitantes é equivocada. Se tentamos por várias vezes atingir um resultado e não conseguimos, isso significa que não estamos usando a melhor ESTRATÉGIA, só isso.

Tenho para mim ser este o grande ensinamento de todos os nossos “fracassos”, a oportunidade de analisarmos aquilo que está funcionando, o que não está e, a partir daí, promover as mudanças que se fazem necessárias. Aliás, não existe fracasso! O que há é a falta de um resultado esperado por ainda não termos usado a melhor estratégia. É como sempre digo, se o sucesso inspira, o fracasso ENSINA!

Finalmente, a última forma de criação de crenças são aquelas que nos são incutidas pela sociedade e decorrem da cultura a que pertencemos. Alguns falam em crenças coletivas!

Quem nunca ouviu frases como “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”, “dinheiro não nasce em árvores”, “dinheiro na mão é vendaval”, “em casa de ferreiro o espeto é de pau”. Nos capítulos posteriores, veremos a importância das metáforas e histórias. Elas falam diretamente ao nosso inconsciente e, com isso, geram profundo impacto em nossa conduta. Nos ditados populares usadas acima, as mensagens transmitidas são as de que não vale a pena correr riscos, que ganhar dinheiro não é fácil, que não temos a capacidade de nos organizar financeiramente e que uma pessoa não pode gerar impacto na vida daqueles que são próximos.

Temos crenças coletivas também no que diz respeito à alimentação. A de que salada é ruim e não tem gosto de nada, a de que para perder peso é preciso sofrer, de que exercícios físicos são entediantes e demoram para dar resultados etc.

O fato é que, independentemente, da maneira como adquirimos nossas crenças ao longo da vida, elas formam nosso modelo de mundo. Em outras palavras, a forma como enxergamos o universo ao nosso redor e as pessoas, aquilo que achamos certo e errado. Nosso modelo de mundo tem papel de imensa relevância em nosso modo de pensar, sentir, agir e, consequentemente, nos resultados que adquirimos ao longo de nossa trajetória.

O objetivo de lhe ter apresentado esses conceitos, no capítulo referente à dimensão física, é permitir que você faça uma análise de suas crenças, como se enxerga e qual seu modelo de mundo. Ele funciona? São limitantes ou, ao contrário, são expansivas e de confiança? Essa análise é essencial para conseguir os resultados que deseja e, mais importante, mantê-los por um longo do tempo.

Outro fator de imensa importância, quando falamos na dimensão física do líder, é a habilidade que este deve ter em estabelecer o que chamo de “rotinas diárias de sucesso”.

Como vimos, o líder precisa de imensa dose de ENERGIA para fazer frente a todos os desafios que encontra, diariamente, para gerar o impacto que deseja em sua empresa, família e coletividade e para alcançar todas as metas que estabeleceu em sua vida pessoal e profissional. Necessariamente, isso passa pelo cuidado com seu corpo físico, com a qualidade de seu sono, o tipo de alimento que consome e com a prática de atividades físicas. Ora, sabemos que o dia dos líderes já é bastante ocupado e que, para que tenham sucesso na implementação desta nova rotina, é imprescindível que se tornem hábitos. Uma vez consolidado o hábito, os resultados virão em breve, é uma questão de tempo Como costumava dizer um professor que tive, pequenas disciplinas praticadas diariamente ao longo do tempo produzem milagres!

Aproximadamente, 40% daquilo que fazemos em nossos dias não decorrem de uma escolha propriamente dita, mas de hábitos. Nós não pensamos, quando acordamos, se vamos ou não escovar os dentes, tomar banho, café, dirigir até o trabalho. Uma vez estabelecido o hábito, não mais deliberamos sobre sua prática, funcionamos no automático. Ao longo do tempo, a depender do hábito adquirido, mudamos radicalmente nossas vidas, para melhor ou pior.

Pesquisadores do MIT descobriram que, neurologicamente, todo hábito tem um processo de três etapas: um gatilho, uma rotina e um prêmio. Vou exemplificar esse conceito com um exemplo meu. Quando ainda era bastante obeso, percebi que, todas as noites após o trabalho, quando chegava à minha casa, tinha por hábito abrir uma cerveja e assistir tevê.

Quando decidi mudar minha vida e estabelecer hábitos mais saudáveis, reconheci que aquela rotina não contribuía em nada com meus novos objetivos e resolvi mudar. Afinal, perdia muitas horas em frente da tevê e a ingestão de álcool, todos os dias, estava tirando muito de minha energia.Reconheço que falhei incontáveis vezes no intento. Com frequência, esquecia-me do meu propósito e, quando dava por mim, já estava reiterando os hábitos a que visava sanar.

Fazendo uma análise daquela época, reconheço, facilmente, a rotina. Sempre acontecia quando chegava à minha casa, após o trabalho e após ter tomado banho. O gatilho era o cansaço que sentia após um dia de trabalho e o ato de assentar-me no sofá de minha sala. E, finalmente, o prêmio era o estado de relaxamento que tomar uma cerveja e ficar passando os canais com o controle remoto me proporcionavam.

Uma vez que esse padrão ficou claro, consegui estabelecer um plano para conseguir, da mesma forma, o prêmio que desejava, porém, por intermédio de uma rotina mais saudável e condizente com meus novos objetivos. Comecei a experimentar diferentes possibilidades a fim de alcançar um estado de relaxamento. Fiz massagem, caminhada na esteira, alongamento e, finalmente, meditação, que funcionou maravilhosamente bem para mim.

No início, a mudança requeria um esforço, vale dizer, quando chegava à minha casa e após tomar banho, sentindo cansaço e vontade de relaxar, precisava lembrar-me de ir meditar em vez de tomar uma cerveja. Mas com o tempo, a satisfação (prêmio) que alcançava após uma sessão de meditação era tamanha que comecei a não ter mais de pensar no assunto. Simplesmente ia meditar. Aquilo se tornou um novo hábito!

E você, leitor(a)? Qual o hábito que pretende mudar?

Sempre come sobremesa? Perde muito tempo com mídias sociais? Não importa qual seja, identifique o padrão de conduta (rotina), o gatilho que o leva a agir daquela forma e o prêmio que alcança ao final. Identificados a rotina, o padrão e o gatilho, estabeleça um plano para alcançar o prêmio desejado de uma forma mais positiva para sua vida por meio de uma nova rotina.

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