“É preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, até que num dado momento, a tua fala seja a tua prática.” (Paulo Freire).
Uma das pessoas que mais me influenciou foi o Sr. Roque Jacintho. Nascido em Sorocaba, era escritor, jornalista, advogado e incansável divulgador da Doutrina Espírita.
Hoje percebo que foi um grande líder.
Durante anos, em minha mocidade, tive o privilégio de disfrutar de seu convívio diário e as marcas deixadas por aquele tempo ainda estão gravadas em minha alma.
O curioso é que por fazer muito tempo não me recordo mais do conteúdo de nossas incontáveis conversas, nem tampouco das preciosas lições que recebia sobre os mais diversos temas.
Embora não me recorde de nossas conversas, as imagens que traduziram sua conduta ainda estão muito vivas dentro de mim.
Por exemplo, não me lembro de nenhuma de suas palestras sobre a gentileza, mas ainda lembro como tratava com grande dignidade os mais simples que o procuravam diariamente.
Também não me recordo de algum dia ter me falado da importância de ter foco naquilo que estava fazendo. Mas é vívida sua imagem, absorto e concentrado nas tarefas que desempenhava.
Diariamente era brindado com lições acerca da humildade, desenvolvimento de pessoas, ética e outros assuntos afetos à liderança. E sempre ocorria em primeira pessoa. Da experiência direta de vê-lo interagir com os outros. Ele era sempre o exemplo.
Era sábio o Sr. Roque. Sabia que nada deteriora mais a confiança que o discurso dissociado da prática.
Embora fosse um palestrante requisitado, não foram suas palavras, mas sua conduta que me inspirou a ser um ser humano melhor.
Em uma das noites daquele período, aguardávamos o início de uma de suas palestras. O tema era a compaixão. Recordo-me que, não obstante a chuva pesada que caía, o salão estava lotado e cadeiras extras eram providenciadas para acolher as centenas de pessoas que queriam assistir sua palestra.
Foi naquele momento que chegou uma mulher aparentemente bastante perturbada. Relatava que em função das chuvas a casa humilde em que morava estava sendo tomada pela água e implorava pelo socorro de quem lhe pudesse ajudar.
Naquele momento o Sr. Roque se dirigiu ao palco reservado ao palestrante e explicou o ocorrido à plateia que se espremia no salão. Disse que naquela noite não mais falaria sobre compaixão, mas que todos poderiam vivencia-la, se aceitassem seu convite e ao seu lado fossem socorrer aquela senhora.
Muitos foram embora imediatamente. Alguns resmungavam o tempo perdido. Todavia, muitos aceitaram o convite feito e nos dirigimos à casa quase inundada para iniciarmos o trabalho de ajuda àquela família.
Naquela noite, me senti mais vivo do que nunca, orgulhoso de fazer parte de algo maior que meus interesses e grato por ter ao meu lado um líder que de forma coerente me ensinava com humanidade o que era Liderança!