Tony Loureiro

Ai, seu sucesso! Assim você me mata!

Ai, seu sucesso! Assim você me mata!

Do More

Michel Teló, outro que cometeu o pecado do sucesso. Porque é assim que funciona: batalhou, achou a oportunidade e venceu? É hora de enfrentar a massa frustrada, os sabichões injustiçados pelo destino, artistas, gênios e atletas que nunca foram.

Se tudo terminasse em piadinhas, charges mal photoshopadas ou contrapontos fundamentados, menos mal. Humor e crítica são vitais, sarcasmo é prazer honesto. A gente ironiza e questiona a própria família, por que não fazer com as chamadas pessoas públicas? O triste, e ao mesmo tempo curioso, é o ranço, são as chispas de ódio, a perseguição, o malho autoritário e presunçoso de quem nunca criou absolutamente nada, mas jura em seu íntimo que poderia ter sido tão rico ou famoso quanto os que estão vivendo seus sonhos. Gente que se morde pelos objetivos abandonados sempre que é obrigada a conviver com os louros da persistência.

Porque não há mérito somente em nascer com o dom. o verdadeiro mérito é pô-lo à prova, dar a cara à tapa, à desconfiança, às vaias. Ouvir recusas contínuas, se expor ao desdém de quem nega oportunidade por puro sadismo ou ignorância.

Cantar não é fácil, mas parece ser bem mais simples do que encarar uma plateia. Na prática, o poeta de gaveta não possui nada além de um hobby, porque escritor mesmo é aquele que sujeita seus versos ao julgamento público. Em termos de contribuição social, ter talento e não externá-lo é tão relevante quanto não ter talento algum.

O talento do Michel Teló? Não vem ao caso discutir, porque a pegação no pé do garoto pouco tem a ver com as suas habilidades. Não existem tantos brasileiros assim aptos a julgar a simplicidade (ou não) de seus acordes, ou a aclamada penúria literária dos seus hits. Bem pelo contrário. Fora a minoria que realmente entende do assunto, a patrulha, anti-Teló é formada e, boa parte por pessoas que viveram seus melhores momentos com a deliciosa cafonice enlatada e mal traduzida que ritmou a Jovem Guarda, dançaram a cansativa Macarena ou estão neste momento compartilhando o vídeo da tosca My Humps. O contagiante rock do AC/DC – entre as maiores bandas de tosos os tempos – segue a mesma receita desde sempre, com letras de profundidades ginasial, contudo divertidíssimas.
Porque música também é diversão. E o Michel Teló – mesmo não sendo o autor do refrão mais cantado do verão – fez o planeta sorrir, descontrair, debochar de si mesmo. Merece todos os créditos, pois se é grande proeza para os gênios, que dirá para os desprovidos. Talvez não dure muito, mas já fez muito mais que a maioria.

O fato é que a implicância com o paranaense não diz respeito à sua música, mas sim à dimensão da sua conquista. É isso que incomoda. Aquela invejinha causada pela errônea impressão de que tudo foi fácil demais, que foi apenas sorte, como se o cara não estivesse tentado desde os 12 anos de idade. Não comparando a história, os personagens e suas aptidões, o ranço com o Teló e o mesmo que andou perseguindo o Neymar, por exemplo, outro que parece estar brincando de vencer na vida. Quem tira os medíocres do sério são estas pessoas que transbordam confiança na própria luz e lutam pelos objetivos com um sorriso escancarado no rosto, apesar das muitas dificuldades existentes, que eles preferem ignorar em troca de uma postura positiva. E que aparentam estar pouco se lixando para os agourentos.

Eles têm o brilho e a perseverança que aporrinham os oráculos de boteco, CEOs do cafezinho na copa, visionários que mudarão o mundo a partir da segunda-feira que nunca chega. Gente que entende de tudo, mas nunca fez nada.

Pessoas que não conhecem o limite entre humor e rancor e perdem preciosas horas de trabalho caçando jeito de compartilhar na internet suas convicções venenosas e geralmente pouco embasadas. Sinal de que não fazem direito nem aquilo que sobrou para quem tinha tanto futuro.

Bruno Fernandes, publicitário.

Revista Viver – Fevereiro 24-2012 – Pag. 44
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