E se eu lhe dissesse que tenho comigo um medicamento que fará com que você se sinta bem, aumentará sua autoestima, induzirá à calma, trará clareza ao seu pensamento e melhorará sua aparência? Mais ainda, que esse medicamento não tem efeitos colaterais, é legal e gratuito?
Muito bem, estou falando de atividades físicas. Quando afirmei que atividades físicas são verdadeiros remédios, não estava falando em sentido figurado.
No ano 2000, o pesquisador M. Babyak conduziu um estudo com 156 pacientes vítimas de depressão. Ele os dividiu em três grupos que, respectivamente, receberiam o seguinte tratamento:
1 – Medicação (antidepressivo)
2 – Medicação + exercícios físicos
3 – Exercícios físicos (30 minutos por dia 3x por semana)
Após 16 semanas, todos os três grupos apresentaram melhoras consideráveis, sem que tenha havido diferenças significativas entre eles. Após 10 semanas de tratamento, todavia, verificou-se uma sensível diferença nos grupos em relação ao percentual de recaídas (relapse), veja: No grupo tratado somente com antidepressivos, houve um percentual de relapse de 38%. Já no grupo que recebeu medicação e praticou exercícios físicos, o percentual de relapse foi de 31%. Finalmente, naquele em que os pacientes praticaram somente atividades físicas, o percentual de relapse foi de somente 9%.
“Atividade física não é apenas uma das mais importantes chaves para um corpo saudável – elaéà base da atividade intelectual criativa e dinâmica.” John F. Kennedy
A conclusão do estudo foi a de que “para pacientes com depressão, a realização deatividades físicas é bastante confiável e associada a benefício terapêutico relevante, especialmente, se praticada continuamente e ao longo do tempo”. Nosso corpo foi feito para se movimentar. Uma vida sedentária é causa da maioria dos males da sociedade moderna.
O dr. John Ratey, professor na Escola de Medicina na Universidade de Harvard e autor do livro Spark: The Revolutionary New Science of Exercise And The Brain (ainda não traduzido para o Português) afirma: Costumávamos pensar que nascíamos com certa quantidade de células cerebrais e que estávamos fadados a perdê- las. Todavia, agora sabemos que também ganhamos novas células cerebrais todos os dias. “E que não conhecemos nada que aprimore mais ou substitua melhor nossas células nervosas por outras novas, ou ainda que promova seu crescimento que a realização de atividades físicas.” É, meu amigo, não tem jeito, uma vida saudável passa, necessariamente, pela prática regular de exercícios físicos. Quero dizer que sei que não é fácil iniciar uma nova rotina e que sair do sedentarismo é tarefa que exige muito de nossa vontade. O que aprendi neste caminho é que se trata de um processo e, como tal, deve ser iniciado com calma. É comum encontrar pessoas que foram sedentárias a vida inteira ou por um longo período e que começam a se exercitar de maneira quase irresponsável, exigindo demais de seu corpo desacostumado com tamanho esforço e que, invariavelmente, lesiona-se em pouco tempo. A chave aqui é consistência! Também aprendi que a chance de você permanecer engajado com seus exercícios aumenta significativamente se consegue associá-los ao prazer.
Acredito que não existe a atividade física “correta”. O que há é a atividade física que melhor se ajusta às suas preferências e ao seu estilo de vida. Correr é tão bom como caminhar, que, por sua vez, pode ser intercalado com natação ou hidroginástica. O importante é optar pela modalidade de esporte que lhe dá prazer! Em meu caso, intercalo a realização de várias atividades e, com isso, sinto-me sempre motivado a praticar esportes.
Durante muitos anos, ouvi dizer que, para conseguirmos resultados duradouros em nossa dimensão física, especialmente no que diz respeito à alimentação e exercícios basta querer, basta ter força de vontade. Grande mentira que me contaram!
A limitação da disciplina e da força de vontade. Inicialmente, considere as seguintes informações:
- Noventa e cinco por cento das pessoas que perdem peso em uma dieta ganham novamente o percentual perdido, ou ganham ainda mais do que perderam originariamente.
- Mesmo após um ataque cardíaco, apenas um a cada sete pacientes muda seus hábitos de alimentação e exercícios.
Essas informações servem para demonstrar a limitação da força de vontade e disciplina utilizadas, isoladamente, para alcançar resultados duradouros. Há uma ideia equivocada de que, para perder peso com saúde e de forma duradoura, basta “querer”, que o que importa quando desejamos mudar as nossas vidas e comportamentos é a força de vontade, o esforço e a disciplina.
A propósito, há um grande mercado de “palestrantes motivacionais” e livros de “autoajuda” que, de forma inspirada, exortam as pessoas a mudarem seus hábitos com frases como: “você pode”, “basta querer” etc. É claro que força de vontade e disciplina são importantes não somente no processo de emagrecimento, mas, de uma forma geral, em todas as áreas da vida. Disciplina é fator essencial na criação de rotinas que, a longo do tempo, produzirão grandes resultados no que quer que nos debrucemos.
Mas sua influência é limitada e, a não ser que se trabalhe na construção de hábitos duradouros, em sua autoimagem e depois em suas crenças, qualquer mudança de comportamento baseada, unicamente, na força de vontade está condenada a durar pouco tempo.
No excelente livro “Be Excellent at Anything”, ainda não traduzido para português e escrito por Tony Schwartz, o autor apresenta inúmeras pesquisas que demonstram de maneira inequívoca a limitação da força de vontade. Os pesquisadores informam que cada um de nós tem um “reservatório” de vontade e disciplina que é usado e reduzido cada vez que nos autorregulamos em relação a alguma coisa – seja resistindo a um doce, a uma pizza, ou fazendo qualquer coisa que requer esforço consciente de autocontrole. Em outras palavras, cada vez que nos autocontrolamos em relação à comida, ao sexo ou a nossas emoções, estamos usando um percentual de nosso reservatório de vontade e disciplina, reservatório esse que, por ser limitado, esvazia-se rapidamente.
Autocontrole e disciplina operam da mesma forma que os músculos durante treinamentos de resistência. Quando expostos ao estresse contínuo, o músculo se torna progressivamente destituído de força até que não consegue gerar mais energia e entra em colapso. Se tivermos de contar, exclusivamente, com disciplina e força de vontade para estabelecer um novo padrão de comportamento, a arrasadora probabilidade é que iremos falhar.
Ora, não precisamos ir muito longe. Se você já tentou fazer dieta antes, saberá do que estou falando. Já aconteceu de iniciar uma dieta e durante os primeiros dias ou semanas resistir bravamente a todos os tipos de tentações que lhe ofertaram? Cortou de sua alimentação opções como pizzas, massas, doces, salgados, frituras por um tempo, até que em determinado momento, por alguma razão, como ansiedade ou estresse, e já cansado das disciplinas a que se impôs, você simplesmente “entrega os pontos” e cai de cabeça em todas as guloseimas com vigor redobrado, ganhando ou mesmo aumentando o pouco peso que havia perdido?
Pois é, meu amigo (a), isto se deve ao fato de ter imaginado que para perder peso basta querer, ter força de vontade. E, agora, sabemos que, embora sejam elementos importantes no processo de mudança de hábitos, são insuficientes para gerar os resultados que desejamos em nossas vidas. Outra razão pela qual a força de vontade, isoladamente, é insuficiente para gerar resultados efetivos e duradouros, decorre do pressuposto de que, quando exercermos força de vontade e disciplina sobre algo, é porque estamos agindo contra nossa vontade, contra nossos desejos e, muitas vezes, contra nossa própria identidade. Ora, não precisa ser um gênio para saber que ninguém consegue viver se privando de seus desejos, de sua vontade e, pior, de sua própria identidade.
Neste momento, você pode estar se perguntando o seguinte: “Ora, se não basta querer para perder peso e emagrecer com saúde, estabelecendo novos hábitos em minha vida, o que devo fazer? Qual a peça faltante?” Bom, é neste momento que gostaria de introduzir dois novos conceitos extremamente importantes em sua jornada. Nos próximos artigos, falarei sobre a importância da forma como enxergamos a nós mesmos (autoimagem), das crenças que alimentamos e que influenciam muito a forma como pensamos, agimos e, consequentemente, os resultados que alcançamos e, finalmente, sobre o processo de criação de hábitos novos e mais saudáveis.